A comida migratória como marcadora de identidades, etnicidades e diferenças
DOI:
https://doi.org/10.56242/revistaveredas;2023;6;12;25-46%20Palavras-chave:
Comida Migratória. Identidade étnica. Diferença cultural.Resumo
A identidade de quem migra é vista como um processo de recriação do “eu” na viagem. Os sírios transferidos para São Paulo entre 2013 e 2018 utilizam a cultura alimentar em busca de reconhecimento, identificação, reelaboração identitária e até mesmo como meio de subsistência. Diante das fronteiras culturais, estabelece-se uma troca de valores, e as identidades flutuam, provocando o pertencimento à terra de origem. O grupo recém-chegado encontrou marcas e hábitos alimentares árabes já consolidados na cidade de São Paulo: uma comida brasileira, fruto da leva sírio-libanesa que chegou em meados do século XX. O desafio tem sido o de “inovar” a comida árabe encontrada; assim, por meio de exercícios de intervenção, alguns migrantes buscam formas de reeducar as papilas gustativas dos paulistanos.
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