História e literatura: possíveis usos do paradigma indiciário e da operação historiográfica na obra “As memórias do livro” de Geraldine Brooks
Resumo
Esse artigo tem como objetivo tecer algumas reflexões sobre a relação entre História e Literatura para discutir os processos de construção da narrativa histórica a partir da concepção de “verossimilhança” presente na escrita historiadora e “efeito do real” contido na escrita literária. Para exemplificar essa discussão será analisado o livro “As Memórias do Livro”, de autoria de Geraldine Brooks, para destacar a utilização que a literatura faz de fatos históricos para criar seu enredo/trama. Esse processo analítico irá decodificar os processos de “apropriação da operação historiadora” por parte da literatura a fim de estabelecer efeitos de veracidade da narrativa elaborada por esse romance histórico/policial. Tais artifícios narrativos acabam por falsear a compreensão do leitor, pois, ao lançar pequenos vestígios do real em sua trama literária, se constrói o engodo como forma de capturar o leitor. Nesse ponto, se estabelece o desafio da escrita da história que deve utilizar-se dos mecanismos narrativos da literatura sem estabelecer o engodo como mecanismo de conquista do seu leitor. A escrita da História encaminha-se para uma narrativa a “beira da falésia”. Pois, o debate sobre os limites e desafios da escrita em História a partir das noções de Operação Historiográfica e de Paradigma Indiciário e das apropriações dessas concepções pela literatura é de suma importância para o desenvolvimento da História da Cultura Escrita
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